terça-feira, 20 de março de 2007

zoo na empresa

No decorrer do tempo em que vou ganhando experiência de trabalho, tenho reparado que existe toda uma fauna de espécies raras, capazes (ou incapazes) das coisas mais extraordinárias e com as quais, temos que conviver, porque não temos a sorte de estar numa reserva apenas com elementos da nossa espécie! Esta pluralidade de espécies que em potencial poderia fornecer um esquema de aprendizagem extraordinário, acaba por ter um efeito contrário se pensarmos no esquema de Darwin, partindo do principio que evolução é trabalhar melhor e não coçar a micose a troco de levar o salário para casa, conceito que pode, obviamente ser discutível. Geralmente, o feito de aprendizagem é feito tendo como base o esquema do operário: se me pagam para apertar uma porca, aí de mim olhar para o lado e tentar aprender outras formas de apertar a porca, ou mesmo chegar à conclusão que afinal, uma chave de fendas a cada 100 porcas, seria um investimento bem melhor! E como isto de apertar porcas, cansa (basta pensarmos no Chaplin e na sua alegoria à era industrial) o melhor mesmo é arranjar forma de, através dos meandros da produção, descobrir a fórmula da invisibilidade e acabar por não apertar porca alguma! Podemos comparar toda esta espécie, ou grupo, a um bando de preguiças adaptáveis!

Existem ainda os pavões! Aqueles, que pela sua natureza não se conseguem resignar ao estatuto de invisibilidade, o que não quer dizer que tenham mais vontade de trabalhar por isso. Apenas optaram por uma outra via: utilizam o aparato das penas que aprenderam a fabricar em seu redor para iludir os espectadores, enquanto pouco mais fazem que chamar a atenção!

Mas algumas destas criaturas foram contratadas na qualidade de engenheiros o que é uma chatice, pois dos que sobram, poucos estarão dispostos a fazer de facto alguma coisa, pelo que resta ainda uma escolha: dar a ilusão, não de encantamento, mas de trabalho. Assim, dão sempre a impressão de andar a correr, e quando o fazem, conseguem de facto percorrer distâncias assombrosas! Regra geral, não vão é a lado nenhum! Têm ainda uma outra particularidade da qual usam e abusam quando sentem que não têm pernas para continuara fugir: enterram a cabeça na areia. Estamos perante o chamado engenheiro avestruz!

Se juntarmos a todos estes exemplares, o comum burro, já para não falar do camelo, há alturas em que tenho vontade de dispensar a variedade biológica durante a semana!

domingo, 18 de março de 2007

Insubstituível: o novo escravo

Como tenho ouvido muitas vezes ultimamente, o cemitério está cheio de insubstituíveis. Creio que me dizem repetidamente a expressão para que aprenda que por vezes, fazer mais um esforço, além de não valer muito só serve para me lixar!

E apesar de ser verdade, de todos nós os sabermos, há sempre uns que são mais insubstituíveis que outros! Um bom barómetro para isso são as férias ou às vezes os pequenos intervalos em que por algum motivo, não podemos estar a trabalhar. Tipicamente existem dois tipos de insubstituíveis: os tipos que trabalham tão mal, que ninguém consegue pegar convenientemente no trabalho deles quando não estão e que por isso mesmo apenas deixam a alternativa de serem melgados; ou aqueles, que por acumularem n coisas com a mania de despacharem serviço, fazem quase sempre faltam, como uma bengala que está ali encostada, pronta a ser utilizada em caso de necessidade. E se um dia, de repente, quando se vai a esticar o braço e o raio da bengala não está lá, a única alternativa é chegar à mesma de alguma forma! Os primeiros, assumindo, que existe alguma justiça e equilíbrio na organização tuga, serão eventualmente dispensados. Já os segundos, sendo mais difíceis de apagar, acabam por ver cimentada a sua posição de apoio, cada vez com mais recurso ao seu papel de bengala, até que mesmo para eles fica claro que entre essa preferência e utilização, pouco mais é que um refinar da escravidão!

segunda-feira, 12 de março de 2007

O corno

Como em tantas outras áreas da vida, também no mundo de trabalho empresarial tuga, existe o corno, o último a saber. Geralmente é o mesmo que pertence à categoria dos “entalados”. Isto porque numa empresa, como uma organização social, com a sua própria organização em camadas, tem o seu esquema de passagem de informação vulgarmente apelidado de “rádio alcatifa”. Assim sendo, o último gajo a saber ou é altamente distraído, o que o torna o alvo perfeito para o chamado encavanço que se segue, ou é tão baixo no esquema de castas da empresa, que ninguém se lembra que lhe sussurrar as notícias pela rádio alcatifa ou, em última analise, por ser o porquinho da índia de serviço na roda dos afazeres, é por excelência uma boa vítima a quem despejar mais umas voltinhas forçadas na dita roda, que assim como assim, ninguém vai reparar!

Assumindo que não estamos a falar de ninguém das altas esferas, à medida que vamos avançando na empresa, e conforme somos ou não formiguinhas, assim vai evoluindo o perfil de corno!

Pessoalmente, aprendi a evitar a distracção sistemática no local de trabalho. Este simples facto, aliado a ouvidos apurados, fazem com que pelo menos a circulação da rádio alcatifa, me chegue aos ouvidos. É claro que o facto de ser por excelência o ratinho na roda giratória, faz com que uma boa parte das vezes, ande com a língua de fora à espera da próxima pausa que tarda em vir. E é exactamente nesses meios tempos que me apercebo que me candidatei mais uma vez ao papel de corno!

E é exactamente entre um corno e outro, que os desígnios das mentes que engendram a traição se concluem, fazendo nascer algo novo do sangue, das lágrimas e da vergonha da mesma!

sexta-feira, 2 de março de 2007

Seres mitológicos

Pessoalmente, sempre achei piada a histórias mitológicas, figuras imaginárias, fazer de conta que é possível existirem seres imaginários num universo mesmo aqui ao lado, que não o vemos porque andamos distraídos demais.
De há uns tempos para cá, comecei a reconhecer, no meu dia a dia, algumas figuras que só podem ter alguns poderes mitológicos, pelo menos aos olhos que quem se julga condenado a viver num nível abaixo das mesmas. Estas figuras, geralmente habitam o topo dos escritórios das grandes firmas e têm mesmo direito a motorista! Ao que parece dão pelo nome de administradores. Há quem diga que alguns chegam mesmo a ter capacidade de ser transformarem em criaturas de 3m de altura e cuspir fogo! Pelo receio que vejo incutido no rosto de quem balbucia as novidades que recebe, alturas houve em que eu mesma cheguei a considerar que tal fosse possível! Na antecipação, quando vi surgir uma figura apenas 10cm mais alta que eu confesso que fiquei decepcionada! No entanto quando senti o som do trovão na sua voz, quando mesmo em surdina soprava uma ordem, percebi que provavelmente o poder deste ser não seria físico, mas uma espécie de força hipnótica na voz…

Talvez o truque seja ter um corpo de administração composto por diferentes seres, cada um com o seu poder distinto de modo a poderem atacar melhor no seu todo!

Desconfio ainda que utilizam uma linguagem própria que apesar de sonoramente ser em tudo semelhante à nossa, mas com um significado totalmente diferente daquele que os seguintes na hierarquia ouvem! Esta subtil diferença, explica o pavor irracional que torna quase impossível a quem tem medo de perder as regalias existentes de lhes comunicar qualquer coisa que possa vir a ser entendido como uma afronta ao equilíbrio desenhado pelas mentes destes seres de poderes mitológicos!


Mas por definição, sendo seres mitológicos, são irreais. Existem, porque os alimentamos, porque lhes damos espaço. Se de um momento para o outro, retirássemos todo o bosque encantado, seríamos capazes de ver que falam a mesma língua que nós e que por muito maiores que consigam ser, pisam o mesmo chão!