quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Engenharias e outras engenhocas

O problema de se trabalhar numa área cujo trabalho desenvolvido não é palpável, traz vários problemas. Em primeiro lugar, o conceito do S. Tomé de “ver para crer” fica um tanto ou quanto impossível de medir, o que por si só levanta outras questões: como se explica o tempo consumido em algo que mal se vê?...

Na engenharia civil, é fácil entender os riscos de fazer um projecto mal feito, poupar nos materiais, etc... e infelizmente, de uma forma ou de outra todos nós já vimos telhados a cair, pontes a ruir, casas que necessitam de obras mais cedo que o esperado porque o senhor construtor resolveu abastecer-se no equivalente às lojas dos chineses em termos de materiais de construção, pois sempre podia meter mais algum ao bolso! E todos nós achamos o facto deplorável! Compreendemos que levar com um telhado no toutiço porque alguém se quis despachar, não é uma postura muito profissional.


Agora, se falarmos de algo tão pouco visível como um pedaço de software, o caso muda de figura. Estamos todos mais ou menos habituados a trabalhar com programas que não funcionam e não morrermos por isso e vemos gente a fazer rios de dinheiro com isso, pelo que deve ser normal.A solução ao que parece resume-se quase sempre ao desliga e volta a ligar! Ainda para mais, mesmo que as coisas não fiquem a 100%, há sempre uns entes mágicos que resolvem as coisas com mais cambalhota, menos cambalhota e todo esse universo assim se mantém como que de uma forma obscura que ninguém quer ver melhor!

E no meio disto como raio se consegue manter a paciência suficiente para teimar em explicar que apesar dos computadores fazerem cálculos complicados em pouco tempo, terem potencial para falar com um mundo inteiro e guardarem resmas de coisas, para que as coisas pareçam feitas de pozinhos de perlimpimpim, há alguém que gasta muita massa cinzenta e tempo com o assunto??! Como explicar que mais vale esperar mais um tempo e ter algo funcional, que encurtar o tempo, apenas para poder fazer publicidade enganosa mais tempo?

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

A metodologia do rossio na betesga!

Tem estado muito em voga esta metodologia. Talvez esteja relacionada com o consumismo da moda: desde que a montra esteja bonita e apelativa, pouco interessa que esteja feita de fita-cola e peças presas por alfinetes nas costas, sempre haverá algum distraído que embasbacado com a apresentação no manequim, nem vai reparar em nada! Se por um dia que fosse, toda a gente se colocasse no papel da costureira que tem que tornar algo pré-fabricado (e muitas vezes, mal) em algo feito à medida, talvez começássemos a reparar mais nos alfinetes que tudo repuxam por artes mágicas!

Mas a malta gosta mesmo é de apresentar que consegue fazer o impossível num fósforo:


- É só acende-lo, chefe, e depois dá logo muita luz!


E se o raio do fósforo estiver molhado?... O problema, é que ninguém gosta do gajo que se lembra de fazer esta pergunta… Porque raio haveria o fósforo de se molhar? Nem tem estado de chuva, nem nada!


E lá se continuam, a rabiscar quadros impossíveis, com metade do material. Quando finalmente, se consegue ter um esboço, perto do que de facto tem que ser feito, lá se chega à conclusão que temos a praça do Rossio completa, e apenas o espacinho da betesga no calendário para a construir! Mas alguém nas esferas superiores já tem a betesga a tracejado na sua secretária e ninguém quer lá ir fazer o desenho completo do Rossio: passa a ocupar muito espaço!

E à pala disso, lá vão nascendo Rossios, apenas feitos de papel de cenário, pintados a lápis, que devem apenas aguentar o tempo suficiente para se colocarem os pilares nos edifícios, as pedras da calçada, as estátuas, as fontes… mas na corrida até à próxima betesga, lá fica o papel a aguentar as intempéries como se fosse de verdade!

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Os 3 porquinhos

Quando era pequena tinha um livro com uma banda desenhada que contava a história dos três porquinhos, com uns bonecos muito à la Disney… tenho ideia que era uma das histórias que pedia sistematicamente ao meu tio para repetir, até a saber de cor e declamá-la, olhando para as páginas, como se de facto já as soubesse ler. Não terá sido apenas por isso, mas pelo menos para mim a moral anti preguiça da história está muito clara: mais vale levar mais tempo e ter uma casa em condições. Podendo nós substituir a casa, porque quase tudo! Não é há toa que temos o ditado “depressa e bem, não há quem”!

Tenho constatado, que há por aí muito boa gente que ou não conhece a história, ou dela nada apreendeu! Por certo quase todos temos vizinhos de trabalho cujo o simples acto de marcarem o passo e aquecerem o lugar lhes serve como definição de trabalho, e ainda refilam com todos os outros que teimam em fazer as suas casinhas de tijolo com alguma calma.

Se arranjarmos um lobo mau com folêgo suficiente para mandar as palhotas e casitas de troncos desta para melhor sempre que necessário, talvez ainda haja esperança! Não precisávamos de constatar que os dois primeiros porquinhos tinham seguramente que ser tugas!

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

O desenrascanço tuga

Aqui há uns tempos mandaram-me o link para a definição de desenrascanço do wikipedia, que infelizmente já não encontrei lá… mas o texto era qualquer coisa como:


Desenrascanço (loosely translatable as "disentanglement") is a Portuguese word used, in common language, to express an ability to solve a problem without having the knowledge or the adequate tools to do so, by use of imaginative resources or by applying knowledge to new situations. Achieved when resulting in a hypothetical good-enough solution. When that good solution doesn't occur we got a failure (enrascanço - entanglement). It is taught, more or less, informally in some Portuguese institutions, such as universities, navy or army. Portuguese people, strongly believe it to be one of the their most valued virtues and a living part of their culture. Desenrascanço, in fact, is the opposite of planning, but managing for the problem not becoming completely out of control and without solution.


A definição e o conceito em si parecem-me geniais. Um pouco como aquela anedota que retrata o papel português das assembleias europeias: “fechado hermeticamente numa caixa de vidro com o sinal de quebrar em caso de emergência”!

Esta óptica de é só dar um jeito agora para desenrascar, leva-nos ao típico temporário/definitivo tão comum no nosso universo de trabalho!

Este conceito, aliado a uma espécie de “falta de educação de pensamento”, em conversa com um colega meu, esteve na génese da criação de algumas das aventuras que irão passar por aqui.